sexta-feira, 20 de junho de 2008

Magnus Carlsen vence Torneio Aerosvit 2008!

Retirado do site ChessBase

Aerosvit 2008: Carlsen wins by a full point
19.06.2008 Alexei Shirov and Andrei Volokitin scored final round victories, while Vassily Ivanchuk won another game, this time against Pavel Eljanov in a queen ending. Magnus Carlsen held Ukrainian co-prodigy Sergey Karjakin to a draw to take the category 19 tournament by a full point, with a 2877 performance. He will be number two in the next world rankings – if FIDE rates this event.

Aerosvit-2008 Tournament in Foros, Ukraine

The "Aerosvit-2008" tournament took place in a sanatorium complex in the settlement Foros of AR Crimea, Ukraine, from June 8th to June 19th, 2008. It was a 12-player round robin with invited participants. The average rating of the players was 2711.7, time controls 90 minutes for the first 40 moves and 30 minutes to the end of the game, with an addition of 30 sec. after every move. In case of equal points at the end of the tournament the tiebreak is based on the (1) the result of the direct encounter; (2) the Sonneborn-Berger system; (3) the number of won games.

Round eleven report (final)

White
Res.
Black
Moves
Ivanchuk, Vassily
1-0
Eljanov, Pavel
60
Karjakin, Sergey
½-½
Carlsen, Magnus
30
Volokitin, Andrei
1-0
Alekseev, Evgeny
45
Jakovenko, Dmitry
½-½
Nisipeanu, Liviu-Dieter
18
Svidler, Peter
½-½
Van Wely, Loek
37
Onischuk, Alexander
0-1
Shirov, Alexei
29

Full report to follow...

Final standings (after eleven rounds)

Magnus watch

Magnus Carlsen's overall performance in this tournament is 2877, and his live rating is 2791.5. Which means that if the FIDE world rankings were published today he would be second in the world, seven points behind Anand and one point ahead of (can you guess?) Vassily Ivanchuk! Yes, the Ukrainian GM has overtaken Vladimir Kramnik, who is 2788 and now number four on the list. Alexander Morozevich is a point (actually a tenth of a point) behind Kramnik and Veselin Topalov is number six, eleven points behind Morozevich. Just twelve days left for the official list with the exact figures to be published.

But will Foros be rated? In the Executive Board Minutes of the 78th FIDE Congress, 14-16 November, 2007, in Antalya, Turkey, we read:

"Linares Tournament had been rated for April but some tournaments were not rated. The Qualification Commission decided to have a clear deadline, except for FIDE events listed in the FIDE Handbook. The 15th of the respective previous month is the deadline. A fine of 50 euros should be paid for the late registration."

On Thursday a member of the FIDE ratings commission announced that Foros would be included in the July 1st rating list, but then on Friday the same member retracted his statement, saying that he had been made aware of the above decision and that FIDE was determined to stick by this rule.

We can only repeat what we said a few days ago: FIDE has in the past made exceptions to include key tournaments in the ratings lists. In April 2007 it rated Morelia/Linares although the results could only be submitted after the original deadline. The consideration is that the accuracy of the ratings and their up-to-dateness should take precedence over burocratic guidelines. This applies especially in cases where chess history is in the making. The pressure from chess fans and the media will be enormous. In 2007 1.1 billion chess fans were ready to launch a protest if Anand were not ranked number one. Under worldwide pressure FIDE had to relent and corrected its April list one day later to include Morelia/Linares and put Anand on the top of the rankings.

Live ratings

Independent of what FIDE decides, for the time being we have Hans Arild Runde's Live Top List, which is updated minutes after tournaments are completed. The Live Top List cover all players with a current, live rating above 2700, who are now generally known as "Super-GMs".

Live Top List – June 19th, compiled at 18:57 CEST.

Rank
Player Rating
Change
games
events
born FIDE
01
Anand 2798,1
-4,9
2
1
1969 id-card
02
Carlsen 2791,5
+26,5
27
4
1990 id-card
03
Ivanchuk 2790,8
+50,8
36
4
1969 id-card
04
Kramnik 2788,0
0
0
0
1975 id-card
05
Morozevich 2787,9
+13,9
20
3
1977 id-card
06
Topalov 2777,0
+10
10
1
1975 id-card
07
Radjabov 2744,1
-6,9
31
3
1987 id-card
08
Mamedyarov 2742,1
-9,9
23
2
1985 id-card
09
Leko 2741,0
0
0
0
1979 id-card
10
Aronian 2737,1
-25,9
11
2
1982 id-card
11
Shirov 2736,7
-3,3
22
3
1972 id-card
12
Adams 2734,5
+5,5
20
2
1971 id-card
13
Karjakin 2728,9
-3,1
38
4
1990 id-card
14
Grischuk 2728,2
+12,2
21
2
1983 id-card
15
Svidler 2727,2
-18,8
43
4
1976 id-card
16
Eljanov 2724,9
+37,9
34
5
1983 id-card
17
Movsesian 2723,3
+28,3
53
7
1978 id-card
18
Kamsky 2722,7
-3,3
28
3
1974 id-card
19
Gelfand 2719,8
-3,2
10
2
1968 id-card
20
Ponomariov 2717,6
-1,4
10
1
1983 id-card
21
Gashimov 2716,9
+37,9
34
4
1986 id-card
22
Polgar 2710,6
+1,6
3
1
1976 id-card
23
Jakovenko 2709,5
-1,5
31
5
1983 id-card
24
Dominguez 2707,5
+12,5
19
2
1983 id-card
25
Ni 2705,0
+1
28
4
1983 id-card
26
Bu 2704,6
-3,4
25
4
1985 id-card
27
Milov 2704,6
+14,6
16
4
1972 id-card
28
Wang Yue 2704,1
+15,1
28
4
1987 id-card
29
Alekseev 2702,7
-8,3
23
3
1985 id-card

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Calendário de Junho do circuito enxadrístico brasileiro

Retirado do site Clubedexadrez

Calendário de junho

Atualizado em 18/6 às 23h47 - Campeonato Brasileiro Juvenil em Guarapari/ES, que começa amanhã, é o destaque da semana, que terá também, de sexta a domingo, o Internacional de Birigui(SP) - Tula Ellice Finklea (Lily Norwood, logo depois Cyd Charisse, 1922-2008) - há exatos 100 anos aportava em Santos o Kasato Maru, com os primeiros 781 imigrantes japoneses

19 a 2/6: 12º Memorial Fernando de Almeida Vasconcellos - premiação: R$1.000,00($500,00 ao campeão) - encerrado - 14 jogadores e a vitória de Victor Shumyatsky, veja os boletins - Brasília

27 a 6/6: Campeonato Fluminense de Veteranos - encerrado - Rio de Janeiro

31 a 9/6: IRT Memorial Djalma Baptista Caiafa - encerrado - Rio de Janeiro

31 e 1/6: 2º Aberto do Rotary Club - encerrado - Ituiutaba/MG

1: Aberto de Nova Resende - premiação:630,00 ($130,00 ao campeão) - inscrições:$5,00 - encerrado - MG

1: Torneio 50 Anos de Taguatinga - encerrado - DF

1: 2ª etapa do Circuito Escolar - inscrições: R$7,00 - encerrado - Goiânia

6: Etapa inaugural do Circuito Municipal Juvenil - inscrições: R$3,00 - Barbalha/CE

7 a 13: 20a Taça João Batista Ribeiro Neto/2a Semifinal do 57o Campeonato Citadino - premiação:R$1.100,00 ($300,00 ao campeão) - em andamento - Florianópolis

7 e 8: Campeonato Paulista Juvenil - premiação: R$500,00 ($300,00 no Absoluto e $200,00 no feminino) - encerrado, 12 jogadoras no Feminino e 26 jogadores no Absoluto - campeões: Daphne Jardim Santos e Fernando Viana da Costa, ambos com 4,5 em 5

7 e 8: Copa Malibu - premiação: R$300,00 ($150,00 e um fim de semana no Malibu Palace Hotel - encerrado - Cabo Frio - RJ

7 e 8: Aberto Clássico de Aracati - premiação: R$500,00 ($170,00 ao campeão)- encerrado - CE

7: Campeonato Fluminense Relâmpago - premiação: R$600,00 ($300,00 ao campeão) - encerrado - Rio de Janeiro

7: Campeonato Castelo do Rei - premiação: R$280,00 ($100,00 ao campeão) - encerrado - Cuiabá

7: Campeonato Amazonense Relâmpago - encerrado, vitória de Renan Reis(bicampeão), com 14 em 14 - Manaus

7: 2ª etapa do Circuito Escolar Clube de Xadrez São Paulo/Xeque & Mate - encerrado

8: 5º Memorial Maria Aparecida Guimarães - premiação: R$600,00 ($150,00 ao campeão)- encerrado, 26 jogadores e a vitória de Luiz Guilherme Abdalla, com 5 em 5 e melhor desempate que o MI Mauro Guimarães de Souza, neto da homenageada - São Paulo

8: Torneio Cidade de Barrinha - premiação: R$500,00 - encerrado, 184 jogadores e a vitória de Gérson Batista com 7 em 7 - SP

8: Torneio do Projeto Xadrez na Escola - encerrado - Abaeté/MG

8: 3o Aberto de Ceilândia - inscrições mediante a doação de 1 kg de alimento - encerrado - DF

10 e 11: Competições de Xadrez dos 3os Jogos Brasileiros de Polícias e Bombeiros - encerrado, vitória de Wladimir Zampronha - Vitória

13 a 15: Campeonato Catarinense Juvenil - ajuda de custo de R$ 200,00 aos campeões do absoluto e do feminino, para a disputa do Campeonato Brasileiro da categoria, em Guarapari/ES - encerrado - campeões: Feminino(18 jogadoras)- Denise Lemony, com 5 em 6 e Absoluto(55)-Antonio Carlos Bambino Filho, com 5,5 em 6 - Lages

13: 6a etapa do Circuito Relâmpago - premiaçao: R$150,00 - encerrado - Florianópolis

14 e 15: Campeonato Paranaense Juvenil - ajuda de custo de R$ 200,00 aos campeões do absoluto e do feminino, para a disputa do Campeonato Brasileiro da categoria, em Guarapari/ES - em andamento,Pedro Caetano informa: campeões com 5 em 5 - Absoluto(18 jogadores):Salvio Sakakibara, com melhor desempate que Mateus de Camargo e Feminino(10 jogadoras): Juliana Luiza Choma, com melhor desempate que Joice Catcarth - Francisco Beltrão

14: 4ª etapa do 10º Circuito Catarinense Rápido - premiação: R$1.000,00 (na Divisão Superior, com $300,00 ao campeão) - encerrada, 158 jogadores. Campeões - Superior(53): Antonio Carlos Bambino Filho, com 6 em 6 e melhor desempate que Alfeu Junior Bueno e Ronny Gieseler; Especial: Flavio Koroleski(105), com 6,5 em 7 - Lages

14 e 15: Etapa Araxá do Campeonato Alto Paranaíba e Triângulo Mineiro Pensado - premiação: R$300,00 - encerrada

14 e 15: Campeonato Amazonense Rápido - encerrado, 42 jogadores e a vitória de Leonardo da Paz, com 6 em 7 - Manaus

14: 10ª etapa do Circuito Paulista Dinâmico - premiação: R$1.000,00 ($500,00 ao campeão) - encerrado, 49 jogadores e a vitória do MI Sandro Mareco, com 5,5 em 6 e melhor desempate que o MI Mauro de Souza - Alphaville - SP

14: Etapa dos Circuitos Cearense Rápido e Farias Brito - premiação: R$130,00($50,00 ao campeão) - em andamento - Fortaleza

14: Torneio Interescolar por Equipes do Festival Shopping Bougainville - em andamento - Goiânia

14: Torneio Rápido do Festival Shopping Bougainville - premiação: R$500,00 - encerrado - Goiânia

14: Torneio Relâmpago do Festival Shopping Bougainville - premiação: R$200,00 - em andamento - Goiânia

14: Prova enxadrística do 26º Intercolegial d’O Globo - em andamento - Rio de Janeiro

15: Festival 6º Aniversário Praça Seca Xadrez Clube - premiação: R$1.600,00 ($600,00 ao campeão) - encerrado - Rio de Janeiro

15: 2o. Memorial Michel Fiszman - premiação: R$600,00 ($150,00 ao campeão) - encerrado, 22 jogadores e a vitória de Estácio Limberg, com 5,5 em 6 - São Paulo

15: 39º Memorial Júlio Guerra - 5ª etapa do 3º Circuito Solidário - inscrições mediante a doação de 1 kg de alimento não-perecível em prol da Casa do Menor de Santo Amaro, rua Padre Chico, 308, tel. 5686-3288 e 5521-1666 - premiação simbólica: R$50,00 ao campeão do Absoluto, para jogadores com rating GXBG superior a 1800 - encerrado, 17 jogadores e a vitória de André Magalhães, com 5 em 5. Dante Honda foi o destaque do Grupo B - São Paulo

15: 5ª Copa Escolar Ayrton Senna - encerrada, 1729 pré-inscritos - São Paulo

15: 3ª Etapa do Circuito de Xadrez Escolar, encerrando o Festival Shopping Bougainville - inscrições: R$7,00 - em andamento - Goiânia

19 a 22: Campeonato Brasileiro Juvenil - premiação:R$1.500,00($500,00 ao campeão) - Guarapari - ES

20 a 22: Torneio Internacional de Birigui - premiação: R$1.000,00 ($300,00 ao campeão) - SP

20 a 29: Jogos Universitários Brasileiros - Maceió

21: 4º Aberto de Rosário Oeste - premiação: R$1.000,00($350,00 ao campeão) - MT

21: Torneio Aberto do Clube de Xadrez Mogi das Cruzes - premiação: R$150,00 ($60,00 ao campeão) - inscrições limitadas a 40 - SP

21: Campeonato Sergipano de Rápidas - Aracajú

21: Campeonato Amazonense Escolar - Manaus

21: Campeonato Aberto 30 x 30 MG - Nova Iguaçu - RJ

21: 2ª etapa do Circuito Estudantil Intermunicipal - Botucatu - SP

22: Aberto das Amoreiras - Campinas - 3ª etapa do 7º Circuito Regional - SP

26 a 29: Campeonato Paulista Absoluto - duas vagas para semifinal do Brasileiro -premiação: R$6.800,00 ($1.800,00 ao campeão)- Santos

28 e 29: Campeonato Fluminense de Mestres - Premiação: R$1.000,00($400,00 ao campeão)- Rio de Janeiro

28: Aberto do Corpo de Bombeiros Militares do Distrito Federal/Torneio 2 de Julho - inscrições gratuitas - Brasília

29: 11ª etapa do Circuito Paulista Dinâmico/Bariri 118 Anos - premiação: R$1.760,00 ($300,00 ao campeão) - SP

29: 2ª etapa do Circuito Quirinópolis - premiação: R$500,00 - GO

29: Torneio Mensal do SESC Interlagos - inscrições gratuitas e antecipadas pelo e-mail:xadrez@interlagos.sescsp.org.br - São Paulo





Calendário parcial de julho (até dia 18)

3 a 6: Semifinal do Campeonato Piauiense - Teresina

3 a 6: 3º Aberto Potiguar - Natal

5 a 19: Torneio Absoluto Roraimense - Boa Vista

5 a 30: 9º IRT da Liga Campineira de Xadrez - SP

5: 2a Copa Escolar - inscrições: R$3,00 - Belo Horizonte

7 a 11: Campeonato Brasileiro de Seniors - para jogadores nascidos até 31/12/1947 - Rio de Janeiro

10 a 13: Final do Campeonato Potiguar Feminino - Natal

12 e 13: Regional de Mendes - RJ

12 e 13: Aberto Clássico de Fortaleza - premiação: R$200,00 ($90,00 ao campeão)

17 a 20: Etapa do Circuito Aberto do Brasil/6º Aberto do Sertão - vaga na semifinal do Brasileiro e duas vagas masculinas mais duas vagas femininas na semifinal do Estadual - premiação: R$4.200,00 ($1.000,00 ao campeão) - Quixadá - CE 18 a 24: Final do Memorial Bobby Fischer - Rio de Janeiro

18 a 20: Etapa inaugural do Circuito IRT da Liga de Xadrez de São Bernardo do Campo - SP

18 a 20: NRT (agora saíram com essa...) de Corumbá - MS

Xadrez é um esporte individualista?

Retirado do site ClubedeXadrez

Xadrez é um esporte individualista?

Por João Carlos de Jesus Almeida*

Eis uma questão polêmica. Certa vez durante uma conversa trivial, um colega profissional de Educação Física, me disse que não apoiava a idéia do estímulo ao esporte Luta de Braço (oficialmente reconhecido, tendo inclusive sua entidade máxima nacional, a Confederação Brasileira de Luta de Braço e Halterofilismo) por ser um esporte individual (de um contra um), pois preferia apoiar os esportes coletivos (como o Vôlei, Futebol, Basquete, etc). E, de acordo com ele, aquele tipo de esporte, individual não seria uma boa prática entre estudantes, então o melhor era trabalhar o coletivo, pois estimula a cooperação, interatividade, trabalho em grupo entre outros benefícios.

Passaram-se anos depois desta conversa, e neste período pude observar na minha prática diária como profissional nas escolas municipais e estaduais, que o tal esporte coletivo não era tão coletivo assim. Observei, e ainda vejo isso, em muitíssimas ocasiões em que, por exemplo: numa partida de futsal, toda vez que o “astro” do time driblava um, dois, o goleiro e fazia o gol o monólogo era: “Viu professor, EU sou fera mesmo. EU sou o cara”, e se o time ganhava a conversa era (é): “Ganhamos de n a zero... viu os três golaços EU que fiz?”. Curiosamente, quando o time perdia (geralmente um time perde, claro) a conversa já era outra: “Assim não dá! Viu o vacilo DO goleiro? Levou dois frangos”. “Pô! Perdemos por causa DO ala direita... VOCÊ joga mal demais cara”.

E o pior é que isso se repete nos times de voleibol, nos de handebol etc. Ou seja, para o time que ganha, o mérito é do que “fez mais”, quando perde, a culpa é do que “errou”, nunca é de toda a equipe. Poderíamos dizer, “ah, mas isso só ocorre entre escolares, nas equipes de nível todos assumem a responsabilidade”. Nem tanto. Basta ouvirmos os comentários de muitos praticantes de esportes coletivos profissionais. Recentemente, um caso que me vem agora, o Vasco da Gama, tradicional clube brasileiro de futebol, perdeu um importante jogo nas cobranças de pênalti. Na época, uma das estrelas do time, o jogador Edmundo, que perdeu o pênalti, disse que iria se aposentar, talvez sentindo-se culpado pela derrota do time. E não foram poucos os torcedores, nos bares, na TV, no Orkut etc, que culpavam o jogador pela desclassificação. Ninguém, em nenhum momento, refletiu que, se o Vasco chegou à necessidade de decidir o jogo nos pênaltis, foi porque TODO o coletivo falhou em determinado ponto, não decidindo logo o jogo no tempo normal.

O xadrez, como já sabem, é um jogo de um contra um, onde o indivíduo é, quase sempre, o grande responsável pelas suas derrotas. O que poucos sabem é que é justamente nas derrotas que o enxadrista aprende e cresce moralmente! O competidor bem orientado sabe que errou em um ponto, e é preciso descobrir qual, se aperfeiçoar e evitar cometer o mesmo erro no futuro. Seu crescimento dependerá de seu tempo dedicado ao estudo e prática; à sua motivação e ao seu talento. Interessante que dependerá mais dos dois primeiros itens do que do último. Isso tudo poderia nos levar a crer que o xadrez é um esporte individualista e egocêntrico. Puro mito! Assim como os tabuleiros com teias de aranha que víamos nos filmes de outrora, passando a imagem de que xadrez é um jogo muito, muito demorado. Para os novatos, explico que existem várias modalidades de xadrez, inclusive uma chamada de Bullet, onde toda a partida deve terminar em 2 minutos!

Outra modalidade interessante é o Xadrez por Equipes! Aqui no Espírito Santo, nossa Federação já realiza há anos o Campeonato Estadual Por Equipes, onde cada time é composto de quatro enxadristas, sendo um denominado o Capitão. Dou ênfase ao fato de que o Capitão não dita sumariamente o que a equipe deve fazer, mas ouve, sintetiza e dá suas orientações gerais, traçando conjuntamente a estratégia a ser adotada. Assim cada indivíduo é o responsável pelos seus atos nas suas respectivas partidas, mas sem distanciar do todo. É a coletividade do Xadrez.

Quem é acostumado a participar de competições sérias, já se habituou àquela imagem tradicional no post-mortem (depois que termina o jogo) de uma mesa com dois enxadristas movendo peças e conversando, e uma roda de pessoas ao lado dando suas opiniões. Trata-se da análise, um dos pontos mais cativantes e coletivos do xadrez, onde todos dão suas opiniões e buscam as devidas soluções para os problemas apresentados na posição.

Outras atividades específicas que devem ser utilizadas no xadrez escolar é justamente a resolução coletiva de problemas, estimulando a participação em grupo, promovendo a capacidade de ouvir, generalizar, especificar, sintetizar, e discernir sobre todos os pontos observados e apresentados pelo grupo. Assim como os pré-jogos enxadrísticos; construção artesanal de peças com objetos recicláveis; criação de um boletim (pequeno jornal informativo) com a participação dos membros do clube; divisão de tarefas na organização de pequenos eventos; estímulo à prática da monitoria, onde os mais avançados ajudam os iniciantes etc, onde “muitas vezes, a soma das partes é maior que o todo!”
Ao jogar uma partida, o enxadrista assume uma postura coletiva, pois sabe que seu sucesso depende da cooperação de todas as suas peças. É muito comum quando começo a ensinar xadrez em escolas, surgir algum aluno dizendo: “eu sei jogar”; então convido-o para uma partidinha, assim analiso em que estágio ele se encontra. Não raro, aliás, freqüentemente o aluno move três, quatro, cinco vezes a mesma peça ou peão... em poucos instantes coloco todo o meu exército sobre o Rei dele e venço. Então a turminha ao redor exclama: “puxa! Ele ganhou rapidinho”. Então explico que só venci porque eu tinha mais forças em campo, minhas peças estavam melhor coordenadas e trabalhavam em harmonia. Vejam que, desta forma, o xadrez mostra-se mais cooperativista do que se imagina.

Para finalizar, gostaria de expor parte de um dos textos do Prof. Antônio Villar Marques de Sá, Doutor pela Universidade de Paris (1988), bacharel e licenciado em Matemática pela Universidade de Brasília, onde ele cita a opinião de Charles Partos, Mestre Internacional e professor do departamento da instrução pública do cantão do Valais (Suíça), sobre o

“aprendizado e a prática do xadrez que desenvolvem várias habilidades:

a. A atenção e a concentração;
b. O julgamento e o planejamento;
c. A imaginação e a antecipação;
d. A memória;
e. A vontade de vencer, a paciência e o autocontrole;
f. O espírito de decisão e a coragem;
g. A lógica matemática, o raciocínio analítico e sintético;
h. A criatividade;
i. A inteligência;
j. A organização metódica do estudo e o interesse pelas línguas estrangeiras.”

*João Carlos de Jesus Almeida, profissional habilitado em Educação Física (Ceunes/UFES); Árbitro Regional da CBX; professor habilitado pelo Centro de Excelência do Xadrez (CEX).
Visite:
Clube de Xadrez – Maior comunidade brasileira enxadrística on-line.
FESX – Federação Espírito-santense de Xadrez
Enpassant – minha home Page.
Pensando Bem – Blog do Psicólogo Gerson Abarca.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Misérias e glórias do xadrez - parte 17

Retirado do site do grande jogador brasileiro Hélder Câmara

Kasparov conseguiu ser preso pela polícia, no sábado, em Moscou. Seu retrato, acenando da janela de um ônibus da polícia, é suficiente. Pode acreditar, leitor, e nós temos alguma experiência no assunto: ninguém que é realmente preso - isto é, preso contra a sua vontade - se dá ao luxo desse tipo de salamaleque, até porque o humor nessas horas não é muito propício a essas coisas. Mas, seu único programa eleitoral é posar de perseguido, tal como fazia nos tempos da URSS. Ele acha que isso pode funcionar agora, como funcionou antes. A diferença é que, nesse intervalo de tempo, os russos tiveram a experiência do governo Yeltsyn e daquilo que Putin chamou de “ditadura das oligarquias”, isto é, a ditadura dos que se tornaram bilionários ao roubar o patrimônio público construído em 70 anos pelos povos que compunham a URSS. Como já dissemos, sua oposição a Putin não é pelos seus defeitos - e não faltaria o que criticar, se sua candidatura fosse séria - mas pelas limitações que o atual presidente da Rússia estabeleceu para o império desses nababos. Obviamente, defender que seu verdadeiro programa é acabar com essas limitações, até Kasparov deve perceber que não rende voto. Daí a exumação da postura de perseguido.

Não foi muito diferente a atitude de Kasparov em 1993. Como não existia mais a URSS, o escolhido como perseguidor foi a FIDE, mais concretamente, o seu presidente, Florencio Campomanes.

Pela primeira vez em 18 anos, Karpov não era um dos contendores no match final para decidir o campeão mundial. Perdera, na semifinal, para o inglês Nigel Short. O ex-campeão, nessa época, já havia entrado naquela que Botvinnik chamou de “idade perigosa” para um grande enxadrista – já tinha mais de 40 anos.

KRYLENKO

Com o fim da URSS, acabara também a escola soviética de xadrez. Maiztegui Casas, no artigo que mencionamos na parte anterior deste artigo, considera-a “o movimento enxadrístico mais importante da história”, no que está certo. Nas suas palavras, “partindo da base de que o destino da revolução era gerar o homem novo, mais solidário, mais culto, mais inteligente e mais livre que o produzido pelo capitalismo (...) o xadrez era o terreno ideal para mostrar a superioridade do comunismo sobre o capitalismo. Por seu caráter eminentemente intelectual, por seu aspecto de luta e confrontação direta e por seus elementos dialéticos, o xadrez se prestava, como nenhuma outra atividade, a servir como teste da formação e desenvolvimento do homem novo e para constatar, passo a passo, seu predomínio sobre os burgueses” (grifos do autor).

Há algumas imprecisões nessa descrição: dificilmente os dirigentes soviéticos, sobretudo os da década de 30, achariam que “o xadrez era o terreno ideal para mostrar a superioridade do comunismo sobre o capitalismo”, o que colocaria o nosso jogo acima, por exemplo, da economia e da cultura... Além disso, Stalin, Molotov, e outros, não andavam procurando um aparelho para medir o “homem novo”. Por isso, não é prudente atribuir a eles a crença de que “o xadrez se prestava, como nenhuma outra atividade, para servir como teste da formação e desenvolvimento do homem novo”. Até porque, voltando ao argumento anterior, não faltavam atividades humanas mais decisivas para a Humanidade.

Porém, Maiztegui Casas atribui essas concepções não a Stalin ou Zhdanov, principais teóricos do PCUS, mas ao então Comissário do Povo para a Justiça, Nikolai Krylenko. É possível, e Krylenko, sabidamente, supervisionou o xadrez soviético até o final de 1937 (ver as menções a ele nas memórias de Botvinnik, “Achieving The Aim”). Mesmo assim, isso necessita de comprovação.

Maiztégui Casas faz algumas considerações sobre a trajetória de Krylenko. Umas fazem parte daquilo que podemos chamar, caridosamente, de “lendas da CIA”. Outras, nem tanto. Portanto, é necessário dizer algo sobre o assunto, com base nos fatos conhecidos.

Sabe-se que Krylenko, julgado como traidor e condenado no final da década de 30, esteve entre os primeiros casos a serem revistos na URSS. É interessante observar que, ao contrário da maioria, isso se deu em 1955, portanto, antes do 20º Congresso do PCUS e do relatório “secreto” de Kruschev (25 de fevereiro de 1956), numa época em que a história anterior ainda não havia se tornado anátema, e em que Molotov, Kaganovitch, Malenkov, e outros que depois foram afastados por Kruschev como “stalinistas”, ainda estavam na direção do partido e do Estado soviético. Sabe-se, também, que esses casos foram revistos após o afastamento de Lavrenti Béria da direção do partido e do ministério do interior, em 1953, e que o ataque inicial a Krylenko partiu de Bagírov, um dos mais chegados amigos de Béria, durante a sessão do Soviet Supremo de janeiro de 1938.

A acusação de Bagírov parece bastante mal fundamentada - mas não é possível um juízo definitivo, pois só conhecemos dela os trechos reproduzidos por Roy Medvedev (cf. a coletânea “Stalinism: Essays in Historical Interpretation”), que dificilmente pode ser considerado uma fonte isenta, ou, mesmo, com alguma confiabilidade ou solidez - seja nas conclusões, seja na reprodução de documentos históricos, seja quanto à coerência.

Por outro lado, Béria somente seria transferido da longínqua Geórgia para Moscou em agosto de 1938, portanto, seis meses depois do discurso de Bagírov e do afastamento de Krylenko - e somente em novembro desse mesmo ano ele substituiria Nikolai Yezhov no Comissariado do Interior (NKVD). Aparentemente, é impossível a interpretação de que partiu de Béria o ataque a Krylenko. Qual o seu interesse, em janeiro de 1938, no afastamento de Krylenko? É perfeitamente possível a existência de algum fato que desconhecemos que explique porque Béria queria afastar Krylenko, mas isso seria fazer uma especulação totalmente destituída de base factual. Simplesmente, não há prova disso.

Mas, tudo o que foi dito acima pressupõe como segura a premissa de que Krylenko era inocente. Como essa é, em geral, a premissa dos anticomunistas ao abordar os processos e condenações ocorridos na URSS após 1934, é preciso, pois, acautelar-nos.

Primeiro, porque Krylenko foi réu confesso. E sua trajetória não era a de um homem que confessaria, se não reconhecesse a sua culpa. A história de que ele teria sido torturado não foi provada, assim como não foi em relação aos outros réus dos “processos de Moscou”, e ela tem uma única fonte – um cartapácio denominado “Livro Negro do Comunismo”, que, como o leitor pode julgar pelo título, é uma obra muito isenta. Além disso, a presunção de que a tortura leva o torturado a confessar qualquer coisa, é uma crença muito conveniente aos torturadores, mas nem por isso é verdadeira. Apenas, não é um acaso que os anticomunistas doentios e os torturadores tenham esse credo em comum...

Em segundo lugar, houve, realmente, na época, dirigentes do partido e do Estado que se tornaram culpados de traição. Em 1938, a URSS, sob pressão conjunta da Alemanha, da Inglaterra e da França, além de seus satélites no Leste europeu, estava à beira da guerra - uma guerra que, mesmo na direção do PCUS, muitos achavam que era impossível vencer. Daí, as tentativas, baseadas no medo e na ilusão, de fazer concessões, inclusive territoriais, para evitar a guerra - o que somente seria possível se fossem eliminados os principais dirigentes do partido e do Estado. Como sabemos, essas tentativas não foram bem sucedidas. Mas existiram, e não foram pouco importantes os que se envolveram nelas.

Por último, a “reabilitação” de Krylenko também é insuficiente como prova de sua inocência. Tukhachevsky, vice-comissário da Defesa até 1936, foi também “reabilitado” (é verdade que somente em janeiro de 1957, portanto, depois do 20º Congresso), apesar de todas as provas contra ele, inclusive provenientes de fontes anticomunistas, e da admissão atual de vários autores de que ele realmente tramava um golpe de Estado para barganhar, em seguida, com os alemães (para as fontes mais antigas, ver, p. ex., “Moscow 41”, de Alexander Werth; ou o próprio Churchill, “The Gathering Storm”; e a anotação feita por Goebbels, em seu diário, a respeito dos comentários de Hitler sobre a “oposição” de Tukhachevsky a Stalin).

Embora não tenhamos uma resposta completa para a significação do caso de Krylenko, é necessário levar em consideração os fatos, e não as lendas, ao se referir tanto a ele quanto a outras figuras da época. Botvinnik traça dele um retrato não isento de ambigüidade: “os jogadores ao mesmo tempo tinham medo e gostavam de Krylenko”. Ou: “não participei do campeonato da URSS de 1937 porque estava defendendo a minha tese. (....) Krylenko enviou-me um telegrama ameaçador: 'vou discutir sua conduta no Comitê Central'”, o que parece algo tanto autoritário quanto, simplesmente, bobo. Imagine-se o Comitê Central do PCUS, em 1937, assoberbado por problemas políticos nacionais e internacionais extremamente complexos, dedicar-se a discutir se Botvinnik agiu certo ou errado ao não participar do Campeonato Soviético de Xadrez daquele ano para dedicar-se à sua tese universitária...

Porém, o mais importante é que, embora escrevendo 40 anos depois, Botvinnik não faz comentários sobre o afastamento e posterior condenação de Krylenko, o que, visto que ele foi “reabilitado” em 1955, seria natural esperar. Aliás, considerando a cúpula soviética da época em que escreveu suas memórias, se ele fizesse isso, até seria bem visto. No entanto, a impressão que ele passa é a de que se sentiu aliviado com o afastamento de Krylenko.

CONFUSÃO

Fomos obrigados a essa digressão pelos problemas históricos colocados pelo texto de Maiztegui Casas. Entretanto, isso não lhe retira o mérito de haver percebido que a escola soviética de xadrez era a aplicação, em um campo específico, de uma visão geral de mundo. Obviamente, isso incluía um freio ao comercialismo e tinha no centro a idéia de que jogadores de xadrez não são apenas jogadores de xadrez, mas seres humanos.

Este último aspecto estava implícito quando Botvinnik disse que Fischer era “uma máquina de calcular”. Apesar de Fischer ter sido o jogador ocidental que mais absorveu as pesquisas soviéticas em xadrez, isso não o fazia membro da escola soviética - nada mais estranho a ela do que um sujeito que só jogava xadrez, só pensava em xadrez e somente lia sobre xadrez.

Assim, Botvinnik foi um dos cientistas mais importantes na área elétrica e, depois, na informática. Smyslov era um cantor lírico de méritos. Taimanov era um excepcional pianista. Tahl, apesar de seu quase vício pelo xadrez, um professor de literatura. Talvez o único que dedicou-se somente ao xadrez tenha sido Petrosian, que, devido às circunstâncias da vida, era antes um trabalhador braçal pouco qualificado.

Hoje em dia é mais ou menos habitual que alguns jovens, estilo Magnus Carlsen, abandonem a escola para dedicar-se ao xadrez. Antes de Fischer, até no ocidente isso era inadmissível: ver a sentença da Justiça americana que separou o então menino-prodígio Samuel Reshevsky dos pais, que, em vez de cuidar de sua educação, dedicaram-se a ganhar dinheiro com as exibições do filho. Mas isso, é claro, foi no governo Roosevelt...

A escola soviética de xadrez compreendia também uma estrutura, que tinha por base as instituições dos “pioneiros”. Mas tudo isso deixou de existir com a URSS.

PCA & ETC.

Em 1993, o conflito de Kasparov com a FIDE era basicamente o conflito do mercantilismo sem limites com os freios a ele que ainda existiam - em suma, com o que restava da escola soviética de xadrez. A FIDE, apesar de sua trajetória de curvar-se aos ditames ocidentais da “guerra fria”, ainda conservava algum respeito pela esportividade.

Ao negociar com Alekhine, em 1938, um match pelo título mundial, Botvinnik surpreendeu-se com a desenvoltura do então campeão em questões monetárias. E comentou, sobre si mesmo: “eu não tinha necessidade de dinheiro”. Ou seja, jogar xadrez, para ele, não era um meio de vida, muito menos de enriquecer.

Mais de cinquenta anos depois, Kasparov e Short resolveram passar por cima da FIDE e realizar um match, sob os auspícios do “The Times”, de Londres, pelo título de campeão mundial - e, naturalmente, Short não era páreo para Kasparov.

A associação paralela fundada por Kasparov, a PCA (Professional Chess Association), que sucedeu a GMA e antecedeu o WCC (todas essas siglas rotulando um mesmo conteúdo, apenas com contratos comerciais algo diversos) poderia ser definida por duas características: a) um mercantilismo sem limites - o xadrez em função dos patrocinadores, isto é, do dinheiro; b) uma corte para Kasparov - tanto assim que deixou (ou deixaram) de existir logo que Kasparov perdeu um match organizado por ela: contra Kramnik, em outubro de 2000. Não era para isso que ela existia.

Mas, após 1993, o que se tornou inviável foi a FIDE. Sem a URSS, também ela passou a depender de patrocinadores. Mas estes, a começar pela Intel, preferiram a associação de Kasparov - que, afinal, havia sido fundada para servi-los, em troca de algumas migalhas (e, se o leitor achar exagerado essa palavra, diríamos que, para esses financiadores, o que passaram para a PCA não merece outro nome).

Da mesma forma, a mídia. O leitor que não é um aficionado em xadrez já deve ter ouvido que Kasparov continuou campeão do mundo ao vencer Short em 1993. Mas certamente ignora que o campeão da FIDE, ao vencer Timman, foi, outra vez, Karpov. Que Kasparov venceu o indiano Viswanathan Anand no campeonato seguinte, mas não que Karpov foi outra vez o campeão, ao vencer Kamsky. Nem que, em 1998, o mesmo Karpov venceu o mesmo Anand que havia perdido de Kasparov, pelo título de campeão do mundo.

Em suma, instaurou-se a confusão geral. Jogadores iam da FIDE para a PCA e da PCA para a FIDE, sem que esta mantivesse a mínima autoridade moral sobre o xadrez mundial. No meio dessa confusão, Kasparov ainda arrumou um match pelo título mundial com... um programa de computador, o famoso Deep Blue. Obviamente, não é essa a versão de Kasparov, mas alguém recordou que ele havia escrito: “Usando os modos geralmente aceitos de contar os campeões, Garry Kasparov é o 13º campeão; o único modo de alguém tornar-se o 14º é derrotar o 13º” (Chess Life, 08/1993). Ele não se advertiu de que, por esse desregrado critério, Fischer ainda seria o campeão mundial. Mas, quando Kasparov perdeu para o Deep Blue, num match em 1997, vários saudaram o novo campeão...

Na verdade, os supostos duelos “homem x máquina” são outro capitulo dessa comédia. É evidente que jogar com um computador é jogar com uma criação humana. Portanto, não se justifica tal alarido em torno desses matches, senão como forma de ganhar dinheiro. Além do mais, como observaram Karpov, Susan Polgar e outros, um duelo desse tipo somente seria justo se o programa de computador contasse apenas com seus próprios recursos. No entanto, isso não é verdade: os programas de computador, até hoje, não conseguem jogar bem uma abertura nem um final de jogo. A solução foi dar a ele livros de abertura e de finais (“tablebases”) onde as posições já estão determinadas, além, evidentemente, de um banco de partidas, jogadas por humanos, cada vez maior. Em um jogo onde, além do mais, o tempo é decisivo, isso torna a partida cada vez mais desigual - não para a “máquina” em relação ao “humano”, mas para os humanos que criaram o programa em relação ao jogador humano que o enfrenta sem livro de aberturas, sem livro de finais e sem poder consultar um banco de dados de partidas.

Esse é o aspecto falso mas não fraudulento desses duelos. Porém, há outro: em 2003, quando outro duelo “homem x máquina” foi promovido, com Kasparov recebendo US$ 500 mil e mais uma bolsa de igual magnitude (60% se vencesse, 40% se perdesse), pagos pela Technologies Corporation para promover o seu “Deep Júnior”, aconteceram algumas coisas incríveis.

Na primeira partida, o “Deep Júnior” fez uma tenebrosa 17ª jogada e perdeu a partida. Na terceira, Kasparov resolveu retribuir a gentileza e competir com a máquina em cálculo - o que ele sabia, desde o Deep Blue, que é praticamente impossível. Programas de computador podem ser vencidos porque sua análise da posição não é acurada, mas jamais no cálculo de seqüências de jogadas - afinal, é para calcular coisas semelhantes que os computadores e seus programas existem.

Na 5ª partida, o computador simplesmente sacrificou uma peça sem compensação, ou seja, fez um sacrifício errado, algo inédito, pois se trata de um grosseiro erro de cálculo. Mas nem por isso perdeu a partida. Na 16ª jogada, numa posição ganhadora, Kasparov ignorou a óbvia continuação e o computador forçou o empate. Depois disso, na última partida, estando numa posição superior, Kasparov propôs o empate, o que deixou o match igualado.

Escrevendo no site “Jaque”, Amador Cuesta Robledo resumiu: “a palhaçada do match Kasparov x Deep Júnior só é comparável a outra pantomima, também sem graça nenhuma, que foi o match Kramnik x Deep Fritz”, também finalizado com empate. Cuesta Robledo nota que esses empates entre “homem” e “máquina” só serviam para que houvesse “outros matches e mais dinheiro para esses espertalhões”. E, sobre a última partida: “mesmo com posição superior, Kasparov propôs empate, igualando o match em definitivo. E logo teremos uma revanche, porquanto nunca faltarão imbecis para prestigiar esses ridículos despropósitos” (citações de Cuesta Robledo em Hélder Câmara, “A Festa Circense”, 15/02/2003).

Quanto ao último item, Cuesta Robledo parece que não tinha razão: já há algum tempo estão escasseando os imbecis para essas finalidades. Mas acertou em relação a “outros matches”. No mesmo ano, Kasparov conseguiu outro confronto “homem x máquina”, dessa vez para promover uma versão do programa alemão “Fritz”. Naturalmente, o match terminou empatado. Por que o fabricante iria pagar a ele US$ 175 mil? Para ter a propaganda de sua mercadoria prejudicada? Mas é sintomático que o cachê tenha descido de preço, razoavelmente, em poucos meses.