sexta-feira, 4 de abril de 2008

Isto É - Comportamento - A diversão que ensina

Notícia retirada do site da revista Isto É

Jogos como o xadrez ajudam o aprendizado e algumas escolas já os têm como matérias obrigatórias

RODRIGO CARDOSO

IBRAHIM CRUZ/AG. ISTOÉ
PÁTIO Jogos, como a forca, ajudam na alfabetização dos alunos

Em cada sala do ensino fundamental do colégio Prima Montessori, em São Paulo, há pelo menos uma estante de jogos. Entre tabuleiros de dama, ludo, palavras cruzadas e sudoku – um quebra- cabeça numérico que virou moda –, cerca de 100 jogos fazem parte do programa de aprendizagem. O que parece passatempo na verdade é uma ferramenta para a construção de conhecimentos. “O jogo desafia a criança a buscar soluções. E o professor tem de estar atento às hipóteses, aos questionamentos dela. Aí, identifica- se o que o aluno está prestes a descobrir”, diz a psicopedagoga Cláudia Bertoni Fittipaldi, mestre e doutora em psicologia da educação pela Pontifícia Universidade Católica (PUC), de São Paulo.

No ano passado, por meio de sua pesquisa de doutorado (Jogar para ensinar – Jogar para aprender: o jogo como recurso pedagógico na construção de conceitos escolares e desenvolvimento de habilidades cognitivas no Ensino Fundamental I), Cláudia verificou que os jogos propiciam o aprendizado de conceitos escolares: “A criança tem de fazer comparações, antecipa jogadas, faz deduções, levanta conhecimentos prévios, testa hipóteses, coisas fundamentais para o nosso dia-a-dia.”

Atento a esses benefícios há 17 anos, quando introduziu o ensino do xadrez como atividade extracurricular, o colégio Augusto Laranja, em São Paulo, elevou o jogo, este ano, à categoria de disciplina para 250 alunos do terceiro ao sexto ano do ensino fundamental. Aluna do quarto ano do colégio, Rafaela Costa Vargas pratica xadrez há três e se considera mais esperta. A mãe dela, a enfermeira Rita Costa Vargas, concorda: “O raciocínio da minha filha para fazer conta é muito mais rápido.”

MESTRE Rafaela pratica xadrez há três anos

Segundo esporte mais praticado no mundo, o xadrez vive um boom de praticantes principalmente na China e na Índia, onde o jogo ganhou repercussão depois que o hindu Viswanathan Anand tornou-se campeão mundial no ano passado. Na Rússia, há curso superior para a formação de professores de xadrez. “Em Cuba, as faculdades de educação física dispõem de um semestre para o ensino do jogo”, salienta Antônio Carlos de Resende, mestre e professor de xadrez do colégio Albert Sabin, que tem o esporte como matéria obrigatória desde 1994.

No Brasil, o xadrez é praticado em escolas públicas em 25 dos 27 Estados – fora do horário de aula, na maioria dos casos. Poderia ser mais bem aproveitado, como pretende fazer o governo do Pará, que investirá R$ 461 mil para tornar o esporte um recurso pedagógico em 420 escolas de 142 municípios. Em abril, 6.200 tabuleiros e 560 relógios estarão à disposição para que 235 mil alunos passem a aprender também com um tabuleiro à frente.

Há outras iniciativas escolares que capacitam alunos, em São Paulo. No colégio Ítaca, a professora de matemática Célia Ferrari utiliza há oito anos o sudoku para instigar o raciocínio de seus alunos e tornar a aprendizagem da disciplina mais divertida. No colégio Brasília, palavras cruzadas e forca são usadas para alfabetizar crianças de cinco e seis anos. Os dois jogos têm a função de pôr em xeque a crença do aluno de que para escrever uma palavra é necessária apenas uma letra para cada sílaba. “Uma atividade lúdica em aula sempre é uma garantia a mais de que a criança aprenda”, afirma Helena Verderamis, coordenadora de educação infantil do Brasília.