quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Campeonato Paulista Interclubes - Março 1 e 2 (Hebraica) - 8 e 9 (Pinheiros)

É chegada a hora de uma das competições mais importantes do certame Paulista de equipes no xadrez!!

O Campeonato Paulista Interclubes vai ser disputado em dois finais de semana: 01/03/08 a 02/03/08 na Hebraica e 08/03/08 a 09/03/08 no Clube Pinheiros.

Para mais informações: FPX.

Jogador perde partida por se recusar a cumprimentar adversário

Escrito por Tiago Augusto dos Santos em 21/1/2008 para o site Clube de Xadrez.

O búlgaro Ivan Cheparinov negou o tradicional aperto de mão antes do jogo e foi penalizado com a derrota para o inglês Nigel Short

Pela primeira vez na história dos esportes, o jogo limpo e cordial entre os adversários (o popular fair play) interferiu diretamente no resultado de uma partida, válida por uma competição oficial. No último domingo, 20 de janeiro, o búlgaro Ivan Cheparinov, 21 anos, foi penalizado no Torneio Corus de Xadrez 2008 por se recusar a cumprimentar seu oponente, o inglês Nigel Short, 43 anos, antes do início da partida.

A decisão do árbitro principal Thomas van Beekum, sem precedentes na história do xadrez, baseia-se numa recomendação da Federação Internacional de Xadrez (FIDE), que orienta sobre regras de um ´comportamento adequado´ entre os adversários. Segundo o árbitro, o búlgaro foi penalizado por conduta desrespeitosa e contra todos os princípios do esporte.

Cheparinov afirmou, em nota à imprensa, que não existe nas regras oficias do xadrez esse tipo de penalidade, e que o árbitro deveria avisá-lo da derrota antes de decretá-la, o que o faria aceitar o aperto de mão. O búlgaro disse, ainda, que se recusou a cumprimentar Nigel Short porque o inglês havia dado uma entrevista criticando Cheparinov e a equipe de xadrez da Bulgária. "O senhor Short não merece meu respeito, porque não teve respeito comigo e com a Bulgária, quando deu uma entrevista nos acusando gravemente", disse Cheparinov ao site da ChessBase.

O empresário de Cheparinov, Silvio Danailov, contestou a decisão do árbitro, considerando que houve um descumprimento das regras ao ser decretada a derrota do seu cliente. "O que existe nas regras da FIDE é uma recomendação e não uma normal oficial, pois essa inclusão (a obrigatoriedade do cumprimento) só será avaliada e incluída nas regras oficiais em novembro, no próximo Congresso da FIDE, em Dresden, Alemanha", afirmou.

De acordo com a nova regra, já disponível no site da Federação, "todo jogador que se negue a apertar a mão do seu oponente, antes de uma partida de um torneio da FIDE, e ainda se negue a fazê-lo mesmo depois de o árbitro solicitar o cumprimento, o que significa um insulto ao árbitro e ao torneio, perderá a partida imediatamente".

Confusão – A partida em questão era válida pela 8ª rodada do grupo B do Torneio Corus 2008 — uma das competições mais fortes do xadrez profissional, disputada na cidade de Wijk Aan Zee, na Holanda. Short tinha as peças brancas contra Cheparinov. Ao iniciar a rodada, o inglês fez seu primeiro movimento (1 e4) e levantou-se da mesa; Cheparinov ainda não havia chegado ao local dos jogos.

Ao chegar, Cheparinov dirigiu-se à mesa e respondeu com 1 ... c5. Short aproximou-se e ofereceu sua mão para o tradicional e cordial cumprimento. Cheparinov permaneceu imóvel, olhando fixo para o tabuleiro, com a cabeça baixa, sem responder nada. Short sentou-se novamente e ficou esperando Cheparinov levantar a cabeça. Quando ele o fez, Short ofereceu novamente sua mão, para o aperto de mão. Dessa vez, Cheparinov recusou o cumprimento claramente, dando de ombros.

Short então se levantou e foi chamar o árbitro, pedindo que seu oponente fosse penalizado. O árbitro não sabia da nova regra e disse que iria consultá-la, no site da FIDE. Ao fazer isso, foi falar com Cheparinov, dizendo que ele deveria cumprimentar seu adversário, senão perderia a partida. Cheparinov disse que só faria isso caso fosse obrigado pelo árbitro.

Foi a vez de Short reclamar novamente, dizendo que o fato de Cheparinov recusar cumprimentá-lo por duas vezes "abalou-o psicologicamente" e ele não teria mais condições de jogar. O árbitro decidiu dar o ponto para Short. A súmula ficou assim: Short x Cheparinov 1 e4 c5 1-0. Cheparinov recorrer da decisão do árbitro e ganhou (leia mais abaixo).

O vídeo completo com os fatos narrados foi disponibilizado no YouTube e pode ser acessado pelo link: (http://www.youtube.com/watch?v=M1Gb4lJeXqI).

Após apelação, Comitê decide por nova partida

O Comitê de Apelação do Torneio Corus julgou procedente a reclamação de Cheparinov e determinou que a partida fosse jogada novamente, nesta segunda-feira, 21 de janeiro. Para o Comitê, formado por Vladimir Kramnik, Judit Polgar e Michal Krasenkow, devido ao fato da regra ser ainda uma “sugestão” da FIDE e o árbitro principal não ter se atentado para o que Cheparinov se dispôs a fazer (cumprimentar Short, após a confusão, caso fosse obrigado pelo árbitro), a partida deveria ser refeita.

A decisão do Comitê tardou a sair porque Kramnik estava indiretamente envolvido com o caso e quis declinar de sua participação. Segundo afirmou Danailov, Cheparinov acusava Short de dar declarações falsas sobre os búlgaros, no conturbado match pelo título mundial, entre Kramnik e Topalov. O match teve grande destaque na mídia internacional e ficou mais conhecido como a “disputa do banheiro”. Na ocasião, Short deu entrevistas em favor de Kramnik, acusando Topalov (Cheparinov era seu treinador), de trapacear.

Com o declínio de Kramnik, o próximo nome da lista era o do inglês Michael Adams, que também recusou julgar a apelação, por ser do mesmo país de Short. O terceiro nome foi o do holandês Erwin L´Ami, mas o mesmo não chegou a compor o Comitê, pois Kramnik voltou atrás e julgou o recurso com os demais membros.

A história desse jogo recebeu atenção especial porque a rodada seguinte do Corus, no grupo A, terá pela frente o confronto de Veselin Topalov contra Vladimir Kramnik. No ano anterior, no mesmo torneio, os jogadores se enfrentaram sem se cumprimentarem. Ambos são brigados desde a disputa do título mundial em 2006 e do caso de acusações e “trapaças no banheiro”. Para o jogo da 9ª rodada, Danailov foi taxativo: “Acho que não vão se cumprimentar (Topalov e Kramnik), porque nenhum deles vai estender a mão ao outro, esperando que o adversário retribua”.

Interpretação – O texto da regra, publicado no site da FIDE, dá margem a interpretações dúbias. Baseado nisso, Danailov tentou persuadir o Comitê a aceitar a apelação de seu jogador. Segundo o site, o jogador é punido se não cumprimentar o adversário “antes do jogo”. Como Short já havia jogado seu lance inicial, Danailov quis convencer o Comitê que a partida já havia começado e o cumprimento, mesmo se ocorresse, seria “durante a partida”, caso não contemplado pela regra. A FIDE pretende refazer o texto, pois, baseado nisso, podem surgir interpretações ainda mais esdrúxulas: “antes da partida” pode significar, por exemplo, 10, 15 anos antes do jogo, caso os jogadores já tenham jogado (e se cumprimentado) anteriormente, em suas vidas.
Ivan Cheparinov e Nigel Short
Decisão – A decisão do Comitê incluía que Cheparinov pedisse publicamente desculpas a Short e se comprometesse em apertar a mão do seu adversário antes da nova partida; o búlgaro fez isso, por meio de uma nota enviada à imprensa, mas Short não concordava com a decisão do Comitê e não iria jogar. Convencido por amigos, Short apareceu para a partida com cerca de 10 minutos de atraso. “Foi uma forma de protestar pela decisão do Comitê”, explicou.

A partida foi disputada novamente, nesta segunda-feira, 21 de janeiro. Short venceu, após quase seis horas de confronto, em 72 lances. Antes e depois do jogo, os dois enxadristas se cumprimentaram. (veja em: http://br.youtube.com/watch?v=zbIheG-mztI). Aliviado, mas visivelmente tenso e desgastado após o confronto, Short desabafou: “Existe um Deus. E ele não é búlgaro!”.

Opiniões

Abaixo, a opinião de alguns jogadores brasileiros sobre o caso:

“Eu sou favorável ao fato de que os árbitros tenham mais rigor nas competições. Em outros esportes geralmente é assim, mas no xadrez ainda existe uma excessiva tolerância com comportamentos antiéticos. Em um esporte que preza pelo cavalheirismo e pela esportividade, essa atitude (do Cheparinov) é inaceitável. Alguma punição tinha mesmo de ocorrer; o Comitê acabou abrandando a pena, mas acho que Cheparinov nunca mais fará isso" – GM Henrique Mecking, o Mequinho

“Nunca vi algo parecido. Comigo já aconteceu de não quererem cumprimentar após a partida, não antes. Mas se Cheparinov fez essa graça toda antes, acho que ele deveria mesmo perder o ponto” – GM Alexandr Fier

“O que achei mais ridículo nesta história toda é Danailov vir a público tentando explicar o comportamento do seu jogador: se Cheparinov tinha mesmo raiva do Short, cumprimentasse e vencesse a partida. Todo mundo ia saber da raiva dele, de qualquer forma. Agora, não cumprimentá-lo e causar toda essa polêmica foi bastante desnecessário” – MI Krikor Mekhitarian

“A ética é a mesma em qualquer esporte, do xadrez ao bilhar. O fato que ocorreu ultrapassa o limite do xadrez, infringe a ética em qualquer esporte. Acho que mesmo se Short não tivesse pedido ao árbitro que interferisse, caso o árbitro tenha visto a recusa deliberada de Cheparinov, deveria penalizá-lo” – Josino Rezende, integrante da equipe olímpica brasileira, em Siegen, 1970

“Eu acho que a decisão do árbitro foi correta, a despeito da ambigüidade da lei, uma vez que o gesto do condutor das pretas (Cheparinov) foi claramente uma atitude antidesportiva. Se acontecesse o mesmo comigo, eu ficaria muito constrangida e, também, pediria ao árbitro do torneio que tomasse uma posição” – Carolina Araújo


* Sobre o autor: Tiago Augusto dos Santos é jornalista e enxadrista, tem 24 anos e reside em Taubaté-SP. Possui pós-graduação em Assessoria, Gestão da Comunicação e Marketing. Aprendeu a jogar xadrez aos 12 anos e participa com freqüência de competições estaduais e nacionais, com destaque para os tradicionais Jogos Regionais e Jogos Abertos do Interior no estado de São Paulo.