Jogos como o xadrez ajudam o aprendizado e algumas escolas já os têm como matérias obrigatórias
RODRIGO CARDOSO
PÁTIO Jogos, como a forca, ajudam na alfabetização dos alunos |
Em cada sala do ensino fundamental do colégio Prima Montessori, em São Paulo, há pelo menos uma estante de jogos. Entre tabuleiros de dama, ludo, palavras cruzadas e sudoku – um quebra- cabeça numérico que virou moda –, cerca de 100 jogos fazem parte do programa de aprendizagem. O que parece passatempo na verdade é uma ferramenta para a construção de conhecimentos. “O jogo desafia a criança a buscar soluções. E o professor tem de estar atento às hipóteses, aos questionamentos dela. Aí, identifica- se o que o aluno está prestes a descobrir”, diz a psicopedagoga Cláudia Bertoni Fittipaldi, mestre e doutora em psicologia da educação pela Pontifícia Universidade Católica (PUC), de São Paulo.
No ano passado, por meio de sua pesquisa de doutorado (Jogar para ensinar – Jogar para aprender: o jogo como recurso pedagógico na construção de conceitos escolares e desenvolvimento de habilidades cognitivas no Ensino Fundamental I), Cláudia verificou que os jogos propiciam o aprendizado de conceitos escolares: “A criança tem de fazer comparações, antecipa jogadas, faz deduções, levanta conhecimentos prévios, testa hipóteses, coisas fundamentais para o nosso dia-a-dia.”
Atento a esses benefícios há 17 anos, quando introduziu o ensino do xadrez como atividade extracurricular, o colégio Augusto Laranja, em São Paulo, elevou o jogo, este ano, à categoria de disciplina para 250 alunos do terceiro ao sexto ano do ensino fundamental. Aluna do quarto ano do colégio, Rafaela Costa Vargas pratica xadrez há três e se considera mais esperta. A mãe dela, a enfermeira Rita Costa Vargas, concorda: “O raciocínio da minha filha para fazer conta é muito mais rápido.”
MESTRE Rafaela pratica xadrez há três anos |
Segundo esporte mais praticado no mundo, o xadrez vive um boom de praticantes principalmente na China e na Índia, onde o jogo ganhou repercussão depois que o hindu Viswanathan Anand tornou-se campeão mundial no ano passado. Na Rússia, há curso superior para a formação de professores de xadrez. “Em Cuba, as faculdades de educação física dispõem de um semestre para o ensino do jogo”, salienta Antônio Carlos de Resende, mestre e professor de xadrez do colégio Albert Sabin, que tem o esporte como matéria obrigatória desde 1994.
No Brasil, o xadrez é praticado em escolas públicas em 25 dos 27 Estados – fora do horário de aula, na maioria dos casos. Poderia ser mais bem aproveitado, como pretende fazer o governo do Pará, que investirá R$ 461 mil para tornar o esporte um recurso pedagógico em 420 escolas de 142 municípios. Em abril, 6.200 tabuleiros e 560 relógios estarão à disposição para que 235 mil alunos passem a aprender também com um tabuleiro à frente.
Há outras iniciativas escolares que capacitam alunos, em São Paulo. No colégio Ítaca, a professora de matemática Célia Ferrari utiliza há oito anos o sudoku para instigar o raciocínio de seus alunos e tornar a aprendizagem da disciplina mais divertida. No colégio Brasília, palavras cruzadas e forca são usadas para alfabetizar crianças de cinco e seis anos. Os dois jogos têm a função de pôr em xeque a crença do aluno de que para escrever uma palavra é necessária apenas uma letra para cada sílaba. “Uma atividade lúdica em aula sempre é uma garantia a mais de que a criança aprenda”, afirma Helena Verderamis, coordenadora de educação infantil do Brasília.
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